Grandes tesouros da arte bruta para descobrir no Núcleo de Arte da Oliva

Novas exposições com obras da Coleção Treger/Saint Silvestre, um dos mais impressionantes acervos privadas das chamadas artes marginais a nível internacional.

No mapa mundial dos maiores tesouros das chamadas “artes marginais” há um lugar de destaque para o Núcleo de Arte da Oliva Creative Factory, em S. João da Madeira. Na Península Ibérica não há mesmo outro espaço museológico dedicado a essas obras nascidas do génio atormentado de artistas marginais de todo o mundo. Essas antigas instalações da emblemática metalúrgica Oliva, reconvertidas pelo Município sanjoanense à promoção da arte e da criatividade, acolhem um dos mais impressionantes acervos de Arte Bruta e Arte Singular à escala global: a Coleção Treger/Saint Silvestre.
 
Foi aí que, no dia 18 de junho, abriram ao público duas novas exposições com base nessa coleção invulgar que reúne pinturas, desenhos e esculturas de autores sem qualquer ligação ao meio artístico, muitos deles internados em hospitais psiquiátricos. “Arte Bruta: Uma História de Mitologias Individuais” é comissariada pelo curador francês Christian Berst. “Acordar, sair, caminhar, desacelerar… olhar, parar. Olhar de novo”, centrada na Arte Singular, é comissariada pela curadora italiana Antonia Gaeta.
 
Recorrendo ao que o grande curador de artes suíço Harald Szeeman (1933-2005) qualificou de “mitologias individuais”, Christian Berst explica que a exposição “Arte Bruta: Uma História de Mitologias Individuais” tem a “função principal de mostrar como as obras de Arte Bruta apresentam sobretudo uma tentativa de esclarecimento do mistério da vida”.
 
Por seu lado, Antonia Gaeta revela que as obras da exposição de que é curadora “representam um conjunto complexo submetido a uma certa ideia de organização, regras, proibições, deveres e responsabilidades, mas também possibilitam o seu contrário mostrando alguma displicência e hilaridade das dinâmicas do urbano, o fantasioso, o grotesco, o labor e o emprego disfuncional do tempo."
 
Na base destas exposições está uma coleção privada de cerca de 1000 obras reunidas ao longo de quatro décadas por Richard Treger (músico natural do Zimbabué, com nacionalidade irlandesa) e António Saint Silvestre (escultor luso-francês). Um acervo que se encontra cedido em depósito ao Município de S. João da Madeira para que possa ser mostrado ao público no Núcleo de Arte da Oliva Creative Factory, dirigido pela curadora Raquel Guerra.   
 
“A cidade de S. João da Madeira está nos roteiros internacionais da arte bruta, graças a esta extraordinária coleção, única em toda a Península Ibérica”, sublinha o Presidente da Câmara, Ricardo Oliveira Figueiredo, sublinhando que o investimento na cultura é encarado pela autarquia sanjoanense como fator de “valorização individual e coletiva” e de “melhoria da qualidade de vida”. E é também uma forma de “reforçar a atratividade e centralidade da cidade, constituindo assim um meio de promoção da economia”.

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